Hoje estou aqui para falar com vocês sobre uma das palavras que você, líder, já deve ter ouvido (e provavelmente falado) mil vezes: propósito. Assim como as palavras “inovação”, “sustentabilidade”, “ESG”, e muitas outras, “propósito” tem sido tema de pautas estratégicas da diretoria, e até mesmo um atrativo para captar talentos e investimentos no mercado. Mas, afinal, o que a liderança tem a ver com propósito?
Os fundamentos do propósito
Como boa parte das modas (ou hypes), propósito acabou se tornando um “must have” em empresas de mercados competitivos, ou que buscam algum nível de diferenciação.
Fato é que existem dois erros comumente cometidos quando as empresas se propõem a definir seus propósitos:
Colocam sentenças genéricas, que servem em praticamente todos os setores, e dizem algo próximo ao óbvio. Exemplos: “gerar valor aos clientes e acionistas”, “aumentar a performance do segmento X”, “ser a melhor escolha para a resolução do problema Y”, e assim por diante.
Definem algo mágico (parecido com missões de empresas inspiradoras, como Walt Disney, Google e Apple), mas que também, de certo modo, não explicam o propósito da empresa. Exemplos: “inspirar as pessoas para ação X”, “tornar as empresas mais felizes e engajadas no segmento Y”, entre outras.
Ter um propósito como organização é responder às seguintes perguntas:
Qual a razão pela qual a empresa existe?
Qual valor estamos entregando aos nossos clientes?
Por que nossa empresa é única na entrega desse valor?
Perguntas simples, mas com respostas difíceis de serem respondidas com clareza e elegância. Quando a sua empresa consegue articular uma frase que, ao mesmo tempo, traz os objetivos estratégicos da organização e motiva a equipe, então tem-se um propósito poderoso.
Liderar com propósito
Quando definimos o propósito da empresa, e não somente para deixarmos uma placa bonita na parede ou um slogan no site, passamos a deixar claro não só para o mercado, mas para as pessoas que trabalham na organização o resultado que seu trabalho busca gerar.
“De fato, é difícil imaginar como seus funcionários podem performar se eles não entendem o propósito da empresa”, diz o artigo que nos motivou a escrever essa news. Em uma pesquisa que fizemos em junho de 2022, “propósito” foi o segundo termo mais citado como motivador para ficar no emprego atual:
Esse resultado reforça ainda mais números mostrados no artigo, em que em pesquisa com mais de 540 pessoas, apenas 39% entendem com clareza o propósito das suas empresas, o que reforça para que mais da metade dos entrevistados não se sintam de maneira nenhuma motivados em seus empregos.
Portanto você, como liderança, em qualquer nível, é responsável por compreender, disseminar e trazer pessoas no time que estejam conectados com o propósito da empresa. Pausa para um lembrete importante: se você é líder, e não compartilha dos propósitos da sua empresa, é provável que, em algum nível, você vai passar a perder performance, ou, pelo menos, não vai chegar ao seu nível máximo.
E não digo isso de maneira abstrata. De acordo com o mesmo artigo, mais de 90% das empresas que foram classificadas como tendo propósito claro e bem definido entregaram crescimento e lucros acima da média dos seus segmentos.
Ainda assim, há um risco: geralmente empresas escolhem ou a.) usar o propósito para motivar seus funcionários, ou b.) usar o propósito para traduzir a estratégia para o mercado.
Novamente, não estou dizendo que é uma tarefa fácil, e por isso tão poucas empresas conseguem fazer isso bem feito. Mas como liderança, é seu papel equilibrar essas duas frentes, dentro e fora da empresa. Vamos analisar essas duas frentes com um pouco mais de detalhe.
O propósito comunicado para o mercado: sua promessa para os clientes
Para avaliar se o seu propósito entrega algo concreto aos seus clientes, avalie o que você estabeleceu sob essa perspectiva:
O nosso propósito é relevante para um conjunto de consumidores com o potencial de comprar nossos produtos ou serviços? Está claro como e com qual intensidade iremos melhorar vidas ou negócios?
Nosso propósito é único? Que buraco ficaria caso nós desaparecêssemos?
Nós somos os donos por direito do nosso propósito? Nós temos ou podemos desenvolver as habilidades para prosperar nele? Nós podemos cumprir esse propósito melhor que nossos concorrentes?
É importante que você faça essas perguntas em algum momento como liderança, e principalmente se você coordena a empresa, principalmente sabendo que seus clientes as farão de todo jeito…
O propósito comunicado para sua equipe
O primeiro benefício de ter um propósito bem elaborado se dá em uma das atividades mais difíceis da liderança: atrair talentos. Por experiência própria, já vi pessoas com habilidades incríveis, que simplesmente não geravam resultados por não estarem alinhadas ao propósito da empresa.
As pessoas buscam um sentido em suas ações, decisões, carreiras. Quando você seleciona alguém do mercado para compor seu time, encontre as pessoas que estão alinhadas com o seu propósito. O processo todo (contratação, treinamento, desenvolvimento) vai ser mais prazeroso e eficiente.
Para isso, é fundamental também saber quais competências e habilidades você precisa buscar na composição de um time para cumprir seu propósito. Pode ser que no início da empresa, o feeling te ajude com isso. Mas empresas maiores precisam de mais clareza, definições e menos “achismo”. O custo de não ter isso definido é alto (demissão, nova contratação, novo ciclo de aprendizagem, perda de conhecimento).
Uma vez que você tem as pessoas certas, com as habilidades e competências certas, você precisa orquestrar o seu dia a dia para que essas pessoas possam cumprir o propósito. Quebre os silos entre as pessoas, sejam eles quais forem. Para isso existem ferramentas de colaboração, determinação, por exemplo, de OKRs, e mesmo mudanças de estruturas. Não pare até que a sua máquina de resultados esteja calibrada.
Por fim, vale ressaltar o óbvio: invista em iniciativas e projetos que reforcem seu propósito. Se o seu propósito é produtos de boa qualidade com baixo preço, desenvolva novos fornecedores, novas estratégias de logística, ouça a equipe da operação para entender onde pode reduzir custos desnecessários, e escute o feedback do cliente. Claro, parece óbvio, mas na pressão diária por resultados, algumas lideranças esquecem do propósito, e ficam focadas apenas nos KPIs que precisam entregar. Lembre-se: KPI induz comportamentos na organização, ainda mais se o benefício atrelado ao seu atingimento for relacionado a progressão de carreira e salário. Por isso, pense bem nos seus KPIs, e premie pessoas que constroem e entregam KPIs relacionados ao propósito da empresa.
A liderança é o exemplo do propósito
Vou ser breve neste ponto. Você provavelmente não vai fazer academia onde todos os professores e o proprietário são obesos. Você provavelmente não vai ao dentista que não mantém a higiene bucal. E você provavelmente não vai se preocupar com o propósito da empresa se a sua liderança não se preocupa.
Ser líder é ser exemplo. É viver o propósito dentro e fora da empresa. É tomar decisões coerentes com o propósito. Não tem como ser diferente. Aliás, seria incoerente caso fosse diferente.
Para finalizar, deixo aqui três questionamentos para saber se você, como liderança, está sendo eficiente nesse tema:
Se você colocasse seu propósito ao lado do propósito do seu concorrente, a sua equipe conseguiria identificar qual é qual?
Se você enfileirasse sua equipe, quantos conseguiriam dizer qual é o propósito da empresa?
Sua equipe tem os recursos necessários para entregar o propósito para seus clientes?
Vale a reflexão. E ação.
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